“O Hobbit Esquartejado” e “O Barman Preocupado”

“(…) So, without further ado and on behalf of New Line Cinema, Warner Bros. Pictures, Metro-Goldwyn-Mayer, Wingnut Films, and the entire cast and crew of “The Hobbit” films, I’d like to announce that two films will become three.”
Ou, em tradução livre, leve e solta:
“(…) Então, sem mais delongas e em nome da New Line Cinema, Warner Bros. Pictures, Metro-Goldwyn-Mayer, Wingnut Films, e de todo o elenco e equipe dos filmes de  “O Hobbit”, eu gostaria de anunciar que os dois filmes se tornarão três”

Disse um Peter Jackson com uma foto de perfil sorridente em uma nota em sua página no facebook nessa segunda, 30/07/12.

E agora?

Desde que soube que seria produzido o filme do livro “O Hobbit” (“The Hobbit”, J.R.R. Tolkien, 1937) fui tomado por um misto de sentimentos. Ansiedade, como sempre que vão produzir um livro que já foi lido e que é adorado e apreensão. E não falo dessa apreensão que vem na ansiedade, do “será que vai sair bom?”. Não. Algo maior… Algo vindo de muito, muito tempo atrás… De uma galáxia muito, muito distante…

Sim, meus caros Pubianos, falo de George Lucas e da ameaça não mais tão fantasma de sua segunda trilogia…

A cultura de trilogia já tinha representantes bem fortes, como “The Godfather” (1972-74-90, de Francis Ford Coppola), “Back to The Future” (1985-89-90, de Robert Zemeckis) e a REAL trilogia “Star Wars” (1977-80-83, de George Lucas) quando o próprio George Lucas lançou “A ameaça Fantasma” ( “The Phantom Menace”, 1999) e a coisa toda desandou.

Sem dúvida ainda haviam muitas histórias a serem contadas e os fãs adorariam mais filmes feitos com a qualidade que George Lucas já provara que podia fazer e foram aos cinemas sem dúvida alguma de que sairiam de lá satisfeitos e transbordando felicidade. Nope, diria Chuck Testa. Os fãs encontraram cenas épicas como a batalha entre Darth Maul e Qui-Gon Jinn, mas também encontraram um diretor muito mais comercial, sem tino, desleixado e sem consideração com a manada de fãs da série.

Mas… Por que George Lucas faria um filme à altura dos anteriores? Um homem já abastado de suas três obras de arte e subsequentes (bonecos de ação, pôsteres e o c******),  dono do império LucasFilms pode não sentir (e com razão), obrigação nenhuma de se esforçar para fazer algo incrível que prove seu valor. Ele já havia feito isso. Já era uma lenda e um diretor de ponta. Não precisava fazer filme nenhum. Mas fez. Por que? Infinitas podem ter sido as razões, mas seu Barman acusa, mesmo sem ter propriedade nenhuma que outro fã da série não tenha: Ganância. A promessa de bilheteria e outros produtos vinda dos fãs já conquistados que se multiplicaram ao longo dos anos era incrível. Chamemos essa necessidade de fazer um adendo a algo já incrível pelo quão atraentes os lucros seriam de “Síndrome de Lucas”

E então, em 2001, posteriormente ao primeiro caso de Síndrome de Lucas sai “The Fellowship of The Ring”, o primeiro filme da trilogia “Lord of The Rings”. E foi sublime. E sublime também foram suas duas sequências (“The Two Towers” e “The Return of The King”, de 2002 e 2003). A obra-prima de Peter Jackson, diretor não tão grande até então que viu na série de livros que adorava (sim! Ele já foi um de nós) a chance de, assim como Faramir de Gondor, “Provar seu valor”.

E o jovem Peter ia de estúdio em estúdio, desconhecido e ambicioso, ambicioso demais para muitos estúdios… Até que a New Line Cinema achou que podia bancar um projeto tão grandioso em trabalho e orçamento, e podia. O resto é história. Não, não história. Lenda, mito.

Talento, sucesso e uma obra-prima, os três primeiros sintomas da Síndrome de Lucas.

E Peter saiu de cena por alguns anos sem nenhum trabalho grandioso, ou grandioso o suficiente para sair da sombra da Saga do Anel. Até agora.

Um novo filme que trate da mesma história, já adorada por milhões: segundo sintoma da Síndrome de Lucas.

Como se, depois da primeira aparição da Síndrome, “O Hobbit” já não fosse preocupante, descobri que seriam dois filmes. Ai! Meu coração! “Isso não pode dar certo”, pensava eu, pretenso cineasta “Daria pra fazer ‘O Hobbit’ com qualidade Peter Jackson em apenas um filme de duas horas, duas horas e meia”.

“An Unexpected Journey” e “There and Back Again” já eram preocupações grandes o suficientes para um fã de Tolkien com fobia da Síndrome, certo? Errado. O trailer e os boatos tratavam de personagens que não estavam presentes na obra original, como Galadriel, Necromancer e até uma reaparição de Orlando Bloom como Legolas, cujo pai aparece no livro e até uma aparição de Evangeline Lilly como “Tauriel”, personagem inventada pelo próprio Peter Jackson. Como tudo é desculpa para ter Evangeline Lilly na tela, essa última passa.

Suficiente para meu pobre coração? Não. O filme vai explorar uma nitidez ainda não experimentada em filmes de 48 fps, que são sempre em 24 fps (quantidade de frames (imagens) necessárias por segundo para o cérebro humano reconhecer movimento). Tal qualidade reduziria o motion blur (borrão de movimento) deixado pelo movimento muito rápido de personagens. Incrível para os tiros panorâmicos que Peter Jackson tanto ama, mas, como dito por espectadores selecionados para experimentarem um pedaço do filme antes do lançamento (experiências) “A imagem é estranha”. Sim, deve parecer, mesmo que não se perceba exatamente o que acontece. Esse formato nunca foi usado em filmes, apenas em novelas ou séries. Dessa maneira, grandes são as chances de, para o grande público, a franquia “O Hobbit” ser só “Aqueles filmes com imagem estranha”. Um título vergonhoso para uma obra tão grandiosa. Tolkien se reviraria em seu túmulo.

Isso seria o suficiente, sem dúvida, para deixar qualquer fã à beira de um ataque dos nervos. Não obstante, o já não tão jovem nem tão ousado ou precisado de se provar Peter Jackson anuncia, como dito no começo do post, uma terceira parte prevista para 2014.

O que esse homem está fazendo? A aparição de Galadriel no trailer sugere um romance com Gandalf, então… Ele está inventando coisas, como esse romance e as aparições de Orlando Bloom e Evangeline Lilly? Enchendo linguiça? Como um livro de 200 e tantas páginas dá a mesma quantidade de filmes que uma série de 3 de 300 e tantas? O filme vai ficar aguado? Não sei… E não saber me atormenta.

Mas o filme também tem promessas boas, como a co-direção de Andy Serkis, o Gollum da Saga do Anel, que também atuará em uma cena do filme. Quem sabe ele não seja alguém que prenda o diretor à promessa que qualquer filme seu é e o deixe mais próximo de nossas expectativas?

Outra escolha no elenco que me agradou imensamente foi Martin Freeman como o jovem Bilbo Baggins (ou Bolseiro, como preferir o cliente), já estando ele entre meus atores preferidos pois, apesar dos poucos filmes feitos, provou ser um ator fora de série e encorporou com louvor um dos deuses máximos do panteão nerd: Arthur Dent.

O deus Martin Freeman, pois, desbravar o universo apenas com uma toalha e um roupão…

… E a Terra-Média só com a roupa do corpo e um cachimbo, é para poucos.

Muitos são os motivos pra se desesperar, mas grandes são os para se acalmar. O jeito é esperar até dezembro e ver no que dá…

Até lá, como dizia um comentário do trailer no youtube: “Todos nós saímos do cinema tristes n’O Retorno do Rei por quele ser o final de uma serie tão boa e tão bem feita para o cinema, então vamos dar um voto de confiança a Peter Jackson, pois nem que fossem 5 filmes ele nos decepcionaria”.

Os fãs de George Lucas também não esperavam o golpe tomado com “A Ameaça Fantasma”, mas não podemos fazer nada que não seja confiar no bom e velho Peter Jackson e fazer um altarzinho pra São Kubrick pedindo distância d’A Síndrome…

2 comentários em ““O Hobbit Esquartejado” e “O Barman Preocupado”

  1. George Lucas é um sortudo e nunca foi diretor. Reveja o disco bônus da trilogia original e verá que já no 1.o filme tinha muito material e idéias ainda absortas de como seria o filme. Salvadores da pátria (está no DVD) foram os editores e a trilha de John Willians. No 2.o filme foi mais esperto: chamou um diretor de verdade e fez o que muitos acreditam ser o melhor filme da série. Depois “O Retorno” foi fraco e veio a trilogia nova, que daria uma puta história. Eu a filmaria diferente. Muito. Mas deu nisso que conhecemos. Já Peter Jackson é um Senhor Diretor, bastando ver o trabalho hercúleo para gravar de uma feita os 3 filmes. Também vale lembrar o bom (porém um pouco longo) “King Kong” e o movimentado “Tin Tin” para relembrar alguns trabalhos. De forma que fico tranquilo e acho que se tem alguém competente para filmar “O Hobbit”, só mesmo Peter Jackson. Ou vamos chamar o George?

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