Torresmo e Caipirinha #5 – Clube da Luta (Fight Club)

Boooooooooníssimo dia, tarde, noite ou éon, meu caríssimo Pubiano! E é com um quê de José Dias (não conhece??? Vá ler um pouco criatura!) que exagero nos superlativos e digo que é belíssimo o dia em que volto a escrever para vocês! Sentiram a minha falta? Sentiram falta do Pub? Nós sentimos a sua! E muito! É gigantesco o meu prazer ao anunciar que voltamos com a categoria de que seu Barman mais gosta: o Torresmo! E pra marcar esse retorno, o que melhor do que um de meus filmes preferidos? Senhoras e senhores, crianças e crianços: Clube da Luta!

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Pra quem não conhece o filme ainda, um breve resumo:

Baseado no livro de Chuk Palahniuk, 1996, o filme, de 1999, dirigido por David Fincher, conta a história de um escravo do consumo que sofre de insônia e se vê, oprimido entre seus problemas pessoais, emprego insatisfatório e impotência (no sentido de insignificância social, por favor), sem maneira nenhuma de extravasar toda essa frustração e poder, mais uma vez, dormir. Nesse estado ele conhece Tyler Durden, fabricante de sabão (entre outras ocupações) e com ele cria o “Clube da Luta”. Uma maneira para homens, frustrados como ambos, liberarem toda essa frustração e energia contida.

O clube, porém, começa a fugir ao controle desse tão comum, tão nosso e tão “nós” narrador, brilhantemente interpretado por Edward Norton, em uma de suas melhores atuações (sem favor nenhum!) e tomar proporções gigantescas, nas mãos do carismático Tyler, interpretado por Brad Pitt, em uma atuação também genial!

"Eu não consigo dormir... Eu estou sofrendo!"

“Eu não consigo dormir… Eu estou sofrendo!”

Esse narrador, claramente qualquer um de nós, estrangulados nas engrenagens impiedosas e nas mãos dos poderosos desse sistema mardito que é o capitalismo é apresentado, na figura de Tyler, à Anarquia, que afinal de contas, é o veio central desse filme.

Tyler seria o ser humano perfeito e pacífico não fosse o mundo como é hoje… Mas ao invés de nós e do narrador, ele não se acomoda em sua infelicidade, aceitando o mundo como imutável: ele se levanta contra essa realidade construída por poucos para muitos acreditarem que não podem se levantar. E leva uma galera com ele…

"Você não é um floco de neve único e lindo. Você não é especial. Você é a merda ambulante do mundo."

“Você não é um floco de neve único e lindo. Você não é especial. Você é a merda ambulante do mundo.”

O filme (e o personagem) ganharam tantos adeptos (principalmente entre os jovens) pois ambos, diferente de quase toda a produção cultural da época, pregam a mudança e o levante da maioria pela maioria. Tyler é essa vontade de melhorar o mundo, essa garra, essa raiva reprimida explodindo a dinamite caseira que existe dentro de cada um de nós e jogando tudo o que é desnecessário 15 andares a baixo.

Ele representa, em termos políticos, a primeira face (muitas vezes errônea e infelizmente tida como o todo) da anarquia: a destruição que se faz necessária para que dos cacos desse mundo frio e triste levantemos um melhor para todos.

E é claro que, percebendo a causa de sua infelicidade, nosso narrador… Nós, não ficaríamos parados, e assim começamos, mesmo que de maneira rasa e em nenhum aspecto ligada à revolução, a ceder a essa figura que entende nossas insatisfações e em quem passamos a confiar.

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Porém, como diz Tyler, “É impossível fazer uma omelete sem quebrar alguns ovos”, e, para fins revolucionários, surge o Projeto Destruição, uma instituição fascista que aos poucos se torna autônoma, mas segue idolatrando Tyler como criador e líder, um mal necessário para sua revolução, muitas vezes também entendido como o todo dessa revolução, e não como um pequeno revés.

~~~ALERTA DE SPOILER~~~

Eu não estou brincando. Se você ainda não viu o filme, pare de ler esse artigo AGORA MESMO. Não quero ser o culpado por estragar uma das maiores experiências cinematográficas da sua vida. Vá assistir o filme (não sem antes curtir e compartilhar esse artigo) e depois venha ler o resto.

Por que você que não viu o filme ainda está aqui??? Vaza, agora a conversa é para iniciados

O Yin Yang... Ou quase.

O Yin Yang… Ou quase.

 

Uma das maiores viradas de roteiro de nossas vidas foi, sem dúvida, a descoberta de que Tyler e o narrador eram, na verdade, a mesma pessoa. Estou mentindo?

Um aspecto facilmente explorado no livro (sua mente criando Tyler e o começo de sua mescla e dissolução em Tyler), cria certas dificuldades na hora de levar isso para o filme sem perda de qualidade artística, certo?… Não para o diretor David Fincher! Com seus flashes à la Tyler projetista, podemos ver a construção do líder e herói na mente do narrador. Isso e mais algumas dicas dadas ao longo do filme que nos fazem sentir como retardados ao assisti-lo uma segunda vez o tornam genial e inovador em termos gráficos e de roteiro.

Quem puder ver o filme mais uma vez, também perceberá várias indiretas quanto ao papel do narrador no final da história, como, principalmente, a impressão de seu rosto deixada em lágrimas na camiseta de Bob, o tetudo… Uma referência bem adaptada ao Santo Sudário… Seria Tyler Durden o nosso Messias?!?!

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O medo injustificado do narrador da destruição causada pela revolução corresponde perfeitamente ao nosso remorso incompreensível plantado pela mídia de que “o sistema” é perfeito e intocável, o que torna ainda mais plausível a criação de Tyler por parte de nosso narrador: uma alma livre. Uma alma que vê a verdade e não sente a culpa sem sentido da destruição de um mundo horrível, ao qual todos nós acrescentamos um tijolo todo dia em que não nos levantamos… Tyler é quem o narrador quer ser.

Destruir sua própria criação horrível sem remorso e amar o diferente, o marginal, o estranho sem medo: Tyler quer destruir e, em um momento de “id”, aplaca, por meio de desejos sexuais, os sentimentos do narrador pela, digamos… Excêntrica, Marla Singer, trazida à vida por Helena Bonham Carter, fechando o panteão de atores fora de série.

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Esse é um dos poucos filmes em que, apesar da pequena alteração/omissão no final (assim como em Laranja Mecânica) se pode afirmar, sem medo algum: é tão bom quanto o livro, se não melhor.

O sabão está em nossas mãos, e o que faremos? Abaixaremos a cabeça ou limparemos essa sujeirada para fora da existência?

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