Torresmo e Caipirinha #1 – 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey)

Mais Uma rápida introdução~
Bom dia, tarde, noite ou éon, meu caro leitor. Aqui quem escreve é o seu sempre fiel Barman Verde, estreando um segmento novo no blog (Yaaaaaaaaay!). O leitor deve estar pensando “Como vai funcionar o segmento?” ou “Sobre o que será?” ou até mesmo “Ahn??”, e com razão! Hei de explicar-lhes: o novo segmento tratará de filmes, serão resenhas e reviews de filmes atuais, clássicos, e de outros tipos porque o blog é meu e eu faço o que eu quiser. O nome vem de “pipoca e guaraná”, os melhores companheiros de um filme, mas, como estamos em um pub, e acima de tudo um pub brasileiro (um verdadeiro boteco), o batizei de “Torresmo e Caipirinha”. Bem, tiradas as dúvidas iniciais, sigo com a programação normal e retomo possíveis perguntas na conclusão. Beijo nas nádegas e até lá!

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AVISO: PODE, OU NÃO, CONTER SPOILERS. Mas provavelmente contém…

Uau! Como falar de 2001 sem me delongar até as Terras da Chatice? Difícil… Ainda mais pra mim! Bem, comecemos pelas tecnicidades.

O filme estreou em 2 de abril de 1968, na Inglaterra. Tem a direção, roteiro e produção dele… Do eterno… Do amado… Do patriarca de uma casa de diretores geniais… Do idolatrado por seu humilde Barman e milhões e odiados por tantos outros (milhões, não barmans): Stanley Kubrick . Pra muita gente esse já é um certificado de filme bom, mas não me demoro na babação de ovo pelo diretor, no futuro farei um post completo sobre essa lenda, esse monstro sagrado. Resumo para os desavisados: diretor de poucos filmes foi a prova viva de que quantidade não é qualidade. Em seus 50 anos de carreira dirigiu apenas 13 longas e deixou um 1 interminado (A.I. Inteligência Artificial lançado em 2001 e dirigido por Steven Spielberg, seu, também genial, sucessor, que apenas deu continuidade ao trabalho a ele passado por Kubrick em 1995), porém em sua carreira de poucos números dirigiu filmes como O Iluminado (“The Shining”, 1980) e Laranja Mecânica (“Clockwork Orange”, 1971) entre outros grandes clássicos modernos. Infelizmente, Kubrick não era um elfo e teve que provar do gosto amargo da mortalidade, nos abandonando em 7 de março de 1999, aos setenta anos. “Be in peace, son of Manhattan”.

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O filme recebeu apenas um Oscar (Efeitos especiais) apesar de ter sido indicado para quatro (efeitos especiais, melhor roteiro original, melhor direção de arte e melhor direção), mas como todos já percebemos e esses números ressaltam, os entendidos que fazem o Oscar não entendem de nada. O roteiro tem a co-autoria de Arthur C. Clarke, autor do conto “The Sentinel”, que inspirou o filme.

O filme é dividido em quatro partes, começando por “The Dawn of Men” (“A Aurora da Humanidade”, em tradução livre, leve e solta), em que é retratado o cotidiano de um bando de… Australopitecus? Homo Peludos, Homo Macaquicus… Enfim, de algum ancestral evolutivo do homem com mais potencial pra chimpanzé do que para humano. Sua luta nos desertos africanos para encontrar água e comida e até um embate entre dois grupos desses ancestrais por uma poça d’água. O grupo que seguimos é rechaçado, volta pra sua morada e dorme ao cair da noite para recuperar as energias para mais um dia de luta pela vida. Porém, pela manhã, no centro de sua cratera surge uma grande e grossa placa de algum mineral preto batizada por fãs de “O Monolito”. A histeria é geral, os macacos não sabem o que é aquela coisa e como chegou lá durante a noite, e essa é uma das grandes tiradas de Kubrick no filme. A histeria dos macacos, mais a trilha sonora tensa mais o Monolito de pedra preta e lisa que surgiu silenciosamente durante a noite deixam o espectador tão confuso ou mais do que nossos próprios tataravós simiescos, nos aproximando deles e reduzindo a noção de poder e conhecimento infinitos criados pelo arrogante Homo Sapiens Sapiens.

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O Monolito não faz nada e logo nossos avós evolutivos passam a ignorá-lo em uma atitude que perturba o espectador (“Como eles esqueceram aquele bagulho lá tão rápido?!?!”) e que, mais uma vez, genialmente, nos remete a uma atitude igual a de nossa espécie ‘racional’ e ‘evoluída’, que é simplesmente se acostumar com as coisas e o mundo, esquecendo de como tudo é interessante e estranho, o Sol sumir e depois retornar, a água virar gelo, os bebês saírem das mães… Bog abençoe as crianças.

A vida segue na Terra, o bando espalhado pela árida savana procurando vegetação para comer e dividindo espaço com um ancestral da anta (eu… acho). Mas então, algo acontece. O Monolito se alinha com o Sol e com a Lua e sua magia (?) se mostra. Um de nossos avós em meio a vário ossos de anta tem uma ideia, em uma atuação não verbal tão brilhante que se vê a ainda não inventada lâmpada sobre sua cabeça. Ele segura um fêmur (ou só um osso muito grande e duro) e começa a martelar de leve a pilha de costelas e outros ossos, enquanto um dos mais famosos temas da história do cinema, Also sorach Zarathustra, de Richard Strauss, toca ao fundo. Quando percebe o que acaba de acontecer, vovô começa a golpear mais coisas com o osso, usando-o para matar antas e poder comer sua carne, por exemplo.

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Nossos queridos símios voltam para a poça d’água, agora andando (apesar da postura sofrível que faria qualquer fisioterapeuta cortar os pulsos) sobre duas patas, tendo se adaptado à necessidade de segurar o bastão de osso. Ocorre um massacre. O líder do bando adversário é atingido na cabeça e depois destruído pela tribo antes inferior e seus bastões. A primeira batalha da humanidade acaba. Os vencedores pulam de alegria e um deles joga seu bastão para os céus, onde, num dos cortes mais conhecidos, o osso, no meio do vôo é substituído por um satélite orbitando a Terra, simples e genial.

Assim começa a segunda parte do filme, com cenas de satélites artificiais e estações espaciais orbitando a Terra em sua dança, ao som de o Danúbio Azul, de Johann Strauss, caracterizando uma das muitas coisas que Kubrick revolucionou com esse filme, o uso de música clássica não como algo a mais para a dramatização da cena, mas como algo a mais para ajudar na criação da imagem desejada pelo diretor, como percebido mais fortemente em Laranja Mecânica (num futuro próximo, meus caros… Num futuro próximo…).

Essa parte do filme conta como, no início do século XXI foi encontrado algo próximo a uma base lunar que pode ser a maior descoberta arqueológica da história humana. O Dr. Heywood R. Floyd (William Sylvester) viaja, com enfado, em um vôo, à Lua, em cenas do interior de naves espaciais em gravidade zero que fazem Kubrick merecer 5,723 Oscars de efeitos especiais. Exemplo: uma aeromoça, ou devo dizer… Espaçomoça? ba dum tsss andando pelo teto da espaçonave. Efeitos computadorizados? Para os fracos. Kubrick usa uma centrífuga circular gigante, que gira lentamente junto com a câmera enquanto a atriz anda para o ponto mais baixo, fazendo parecer (de forma muito convincente) que é ela que sobe pelas paredes.

O Dr. Heywood chega à Lua e discursa para um seleto comitê na base evacuada sobre a necessidade de tal descoberta ser mantida em segredo, pois a humanidade não estava pronta pra ela.

A descoberta se deu por meio de um pulso magnético absurdamente forte apontado para Júpiter que foi detectado pelos aparelhos da base, que ficava nos arredores. Quando são feitas escavações lá estava ele. O famigerado Monolito. E, pelas circunstâncias em que foi encontrado, não caiu lá, foi enterrado. Prova decisiva de vida fora da Terra. Dr. Heywood tem um primeiro contato com o Monolito que nos remete ao dos símios: o medo de se aproximar, o impulso de tocar, a hesitação etc. Os pesquisadores se reúnem na frente do Monolito para tirar uma foto, como diria a Servente Vermelha, “Num nojento comportamento facebooquico”. E eis que o Monolito solta um ruído agudo que faz todos caírem de joelhos, tentando tapar seus ouvidos através dos capacetes espaciais. Fim da parte 2, “TMA-1” (Tycho Magnetic Anomaly One)

Image “Mission Jupiter”, a terceira parte do filme se passa 18 meses após a última cena, e já começa dentro da nave Dicovery One, rumando para Júpiter. A nave conta com uma tripulação de seis: três pesquisadores em estado de hibernação até a chegada em Júpiter, os astronautas Dr. Frank Poole (Gary Lockwood) e o Dr. David Bowman (Keir Dullea), que nada me tira da cabeça ser uma referência a David Bowie, compositor e intérprete da música “Space Oddity”, a favorita deste Barman, com infinitos pontos em comum com o filme. O sexto homem da tripulação é o computador de última geração HAL-9000, cuja série possui tem uma folha de operações imaculada, livre de quaisquer falhas, que na missão comanda todas as funções da nave, sendo onipresente e onipotente dentro dela, e que possui também uma interface com um simulacro de emoções humanas, que conversa e interage com os dois tripulantes acordados de várias maneiras, como por exemplo, jogando xadrez. É, basicamente, o um dos deuses dos computadores (apesar de seu Barman preferir o Grande Pensador, Hactar e, claro, a Terra, mas eles são assuntos para outro post). A missão é envolta em uma aura de mistério que ninguém tenta dispersar, exceto por HAL.
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Certo dia ou noite (no espaço tudo é mais confuso), HAL está perguntando para o Dr. David Bowman se certos aspectos da missão não incomodam, como o fato de os pesquisadores, os cérebros da missão, terem sido treinados separadamente e estarem agora em estado de hibernação criogênica até a chegada em Júpiter quando, no meio da conversa, diz ter detectado uma falha na unidade de comunicação da nave, e que em 72 horas ela entrará em pane total. Os astronautas usam uma das cápsulas para missões externas para sair da nave e trazer a unidade para dentro da nave, a fim de fazer mais testes. Os testes são realizados e a máquina está perfeita. HAL diz que aquilo também o surpreende, e os aconselha a reinstalar a unidade e esperá-la falhar, apesar de sua plena funcionalidade comprovada pelos humanos. Um computador 9000 errou. Mas poderia ser pior, ele poderia estar controlando toda a nave e você estar sozinho no espaço a milhões de Kms de casa e… Oh… Vejo o problema.

Os astronautas decidem inventar uma checagem dentro de uma das cápsulas da nave, e, uma vez lá dentro, desligam as comunicações com o sistema central da nave, podendo assim discutir seus planos de desligar, caso a unidade de comunicação não falhe no tempo por ele previsto, a parte de HAL que o concede uma mente e logo sua ciência de existir, deixando-o apenas com suas funções mecânicas básicas. Mas pouco escapa aos frios olhos vermelhos de HAL, e ele lê os lábios dos humanos e descobre seu plano de desligarem-no. Mas um computador gênio e egocêntrico não pode permitir que uma coisa dessas aconteça, e levará sua existência às últimas consequências.

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HAL assume o controle de uma das cápsulas enquanto Dr. Frank Poole está fora da nave e fora da cápsula, corta seu suprimento de oxigênio e o joga em direção ao vazio. Quando percebe que perdeu contato com Poole, Bowman também sai da nave em uma cápsula e vai procurá-lo, porém esquece seu capacete dentro da Discovery.
Enquanto Bowman está fora da nave, HAL mata os pesquisadores que estavam em hibernação e, quando retorna com o corpo de Poole, se inicia a sequência de cenas mais tensa já assistida por seu humilde Barman. Nada de trilha sonora aqui. “HAL, open the pod bay doors please”. Abra a porta HAL. “I’m afraid I can not do that dave”. Temo não poder fazer isso, Dave.
HAL, abra a porta por favor.
Abra a porta HAL.
ABRA A PORTA HAL.
Bowman é obrigado a abandonar o corpo de Poole no espaço para poder usar as garras da cápsula exploratória e abrir a entrada de emergência da nave e entrar pela câmara de despressurização.
“Isso será difícil sem seu capacete, Dave”
David não será contido em sua fúria e arrisca uma entrada na nave da mesma maneira. Entra.
“Eu cometi um erro Dave. Me perdoe Dave”
Dave não perdoará. Vai em direção ao centro cognitivo de HAL e começa a desligar suas funções e ouve sua voz ficando mais débil e cantando músicas que foram ensinadas no dia de seu nascimento, até que um monitor se liga e um homem bem apessoado em um vídeo que não deveria ser exibido até a chegada em Júpiter com toda a tripulação acordada explica a David o real propósito da missão e o achado de uma prova irrefutável de vida extraterrestre inteligente, O Monolito. Kubrick preferiu não mostrar essas formas de vida fisicamente, pois após uma conversa com o físico Carl Seagan percebeu quão intangível é a ideia de poder prever qual seria a forma de um alien, logo, o diretor optou por representá-los apenas como inteligências eternizadas em máquinas ou energias. Acaba a parte 3 do filme

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Da quarta e última parte do filme, “Jupiter and Beyond the Infinite” (Júpiter e Além do Infinito) não me atrevo a falar muita coisa, não podendo tal sequência de cenas ser descrita ou sua beleza ser expressada por palavras apenas por grunhidos e monossílabos. A cereja do bolo desse delírio visual. Um orgasmo de psicodelia. Um dos exemplos do que um professor de história meu certa vez disse “A humanidade surgiu e fez um monte de merda, mas vira e mexe toma jeito e faz algo que preste, como Led Zeppelin”. Sim, sim e sim. 2001: Uma Odisséia no Espaço poderia me convencer a relevar tudo que a humanidade já fez de ruim. Recomendo altamente que vocês assistam, meus caros leitores, para que possam entender a beleza do estado de espírito em que esse filme coloca o espectador. Ninguém deveria morrer sem assistir a esse filme, pois 2001: A Space Odyssey é a definição audio-visual de beleza e sublimidade.

NOTA——————————————> 1O MONOLITOS/10 MONOLITOS
(Leia-se “10 de 10”)

Um pósfácio: este segmento do blog aceitará sugestões de filmes dos quais fazer a review, basta deixar o nome e algum link para assistir o filme online nos comentários que com certeza, demorando mais ou menos, farei uma review de sua recomendação!

Bem, meus fiéis leitores que conseguiram ir até o fim da garrafa e aqui me encontraram, um bom fim de tarde, dia, noite ou éon, dependendo de sua dimensão e forma de vida atual, e até o próximo post!