Torresmo e Caipirinha #09-10 – Kill Bill Volume 1 e 2

Boooooooníssimo dia, tarde, noite ou éon, meu caro leitor! Nesse  começo de ano o Pub está frenético! Que tal, agora, um Torresmo duplo?

Ainda no esquenta para “Django Livre”, que estreia dia 18 de janeiro, vamos falar de mais uma obraa do gênio (ok, vocês já entenderam como eu gosto do sujeito. Chega de puxa-saquismos e viadagens) Quentin Tarantino! E dessa vez vamos falar de uma que é um pouco mais polêmico… Uma saga que divide opiniões. Senhoras e senhores, Kill Bill!

Uma Thurman no já icônico visual amarelo.~Me gusta~

Uma Thurman no já icônico visual amarelo.
~Me gusta~

Em meados dos anos 90, durante as gravações de Pulp Fiction (cheque o Torresmo #08, que é sobre o filme), em uma pausa para descanso, Quentin Tarantino chega para Uma Thurman (que no momento esteva interpretando Mia Wallace) e começa a conversar com ela sobre uma ideia de personagem que teve. Desde então, sempre que podiam, Quentin e Uma conversavam e criavam, aos poucos, um personagem e uma história, enquanto ele tomava notas. E eis que, por fim, ambos criaram “A Noiva”, que seria uma mulher, uma assassina profissional de primeiro nível que foi sacaneada por seus colegas de trabalho e se tornou uma máquina de matar sem piedade nem misericórdia ou piedade. Pois sabem aquele crédito que aparece no começo e final do filme, “Based in the character ‘The Bride’, by Q&U” (“Baseado no personagem ‘A Noiva’, por Q&U”)? Duvido que vocês adivinhem quem são Q e U…

'A deusa e o geek", diz a capa da Rolling Stone de 2004.Momento fofoca: ambos desmentiram um relacionamento, embora Quentin tenha dito:
"Não estou dizendo que estamos, nem que não estamos"

‘A deusa e o geek”, diz a capa da Rolling Stone de 2004.
Momento fofoca: ambos desmentiram um relacionamento, embora Quentin tenha dito:
“Não estou dizendo que estamos, nem que não estamos”

E dá pra ver que Quentin não fugiu nada da ideia original ao escrever o roteiro.

A saga de dois filmes (“Volume 1”, de 2003 e “Volume 2”, de 2004),  conta a história d’A Noiva (Uma Thurman), até certo ponto da história sem nome, a ex-assassina profissional que, após se descobrir grávida, abandona sua vida de perigos, mas é caçada por seu ex-chefe e ex-namorado Bill (David Carradine, falecido em 2009 de uma das maneiras mais… Ahn… Tensas. Sem mais perguntas. Google it.) e seus ex-colegas, sendo deixada à beira da morte em uma capela com mais 9 mortos.

Porém, como ela mesma diz, cometeram um erro. Deviam ter matado 10.

Após acordar de um coma de 4 anos causado pela surra na capela, A Noiva (nome pelo qual é conhecida entre os enfermeiros e médicos, já que não havia sido encontrada informação sobre ela) percebe que perdeu o bebê e entra no que ela mesma chama de “Furor de vingança” e parte, antes de qualquer coisa, para o Japão, e trata de conseguir uma espada das boas com o mestre na forja Hattori Hanzo, interpretado por Sonny Chiba, o astro de um seriado japonês, do qual Tarantino era fã, onde atuava como o homônimo Hattori Hanzo. A cena da entrega da espada, que ele jurara não forjar 28 anos antes, em um juramento de sangue, inspirou uma cena do livro “Brisingr”, mas já falamos disso no Pub! Links no final!

Hanzo passa a espada à Noiva

Hanzo passa a espada à Noiva

Já com a espada, A Noiva faz uma lista dos objetos de sua vingança: seus colegas membros do “Esquadrão de Aniquilamento das Víboras assassinas” e seu ex-namorado e ex-chefe, Bill. Assim começa seu frenesi de vingança e sua jornada até Bill.

No primeiro filme encontramos as duas primeiras vítimas da Noiva, O-Ren Ishii (a DEUSA Lucy Liu), que seguiu a carreira de assassina e acaba se tornando a rainha do crime de Tóquio e Vernita Green (Vivica A. Fox), que também se retirou dessa vida para ter uma família e uma vida normal nos subúrbios.

O-Ren Ishii, no dia do massacre na capela em El Paso. ~suspiro~

O-Ren Ishii, no dia do massacre na capela em El Paso. ~suspiro~

 

Vernita Green, no mesmo dia.

Vernita Green, no mesmo dia.

Nesse primeiro filme encontramos uma história um pouco mais linear (apesar das inversões de roteiro Tarantinescas), sendo todos os acontecimentos pós-coma.

Aqui temos praticamente só ação, e a ação desse filme é a clássica: lutas com espada, facas, uma única pessoa dizimando um exército e tudo aquilo que já conhecemos, mas com um tempero que só Tarantino consegue colocar. Ele mistura o estilo faroeste com o clássico de artes marciais e espada, como se percebe na trilha sonora, mesmo que aqui ele penda mais para o estilo sino-nipônico de se fazer filme, com takes típicos de séries de samurais, como a câmera que acompanha, sem oscilar, uma machadinha atirada.

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No Volume 2 o filme começa a pender mais para o faroeste, com personagens ainda mais interessantes. Depois da criminosa que subiu na vida e da que largou a vida no crime somos apresentados a mais três tipos:

Budd: o caipirão

Budd: o caipirão

Com Budd (Michael Madsen, de “Cães de Aluguel”) somos apresentados ao fracassado. O irmão de Bill, que chegou a ser um assassino mesmo sem completar seu treinamento, após uma briga com seu irmão passa a viver em um trailer no meio do deserto e trabalha como segurança em um club de Strip-Tease… É… Não ta fácil pra ninguém…

Elle Driver: a submissa

Elle Driver: a submissa

Com Elle Driver (Daryl Hannah) conhecemos a submissa, uma mulher que nunca quis sair da aba de Bill, continuou como assassina mandada, sendo hoje completamente submissa a ele e à ideia de que tem seu amor. Ela faz uma ponta no primeiro filme, em que, com sua roupa de enfermeira, participa da cena mais icônica do filme, uma paródia de uma cena de “Twisted Nerve”, de 1969

A mão que puxa as cordas...

A mão que puxa as cordas…

Bill, a quem só somos devidamente apresentados no segundo filme, se mostra… Um cara legal. Ainda como chefão do crime, vive uma vida abastada no interior do que parece ser o México e traz ao filme o elemento filosófico. Com suas discussões sobre máscaras e a lavação de roupa suja com A Noiva se mostra um cara intelectualizado e interessante, ainda mais quando mostrado no pré-massacre.

Nesse filme temos mais influências do gênero faroeste, além de um roteiro completamente alinear, mostrando fragmentos até mesmo do treinamento d’A Noiva com o mestre das artes marciais Pai Mei, uma figura memorável interpretada por Gordon Liu, que já havia aparecido no primeiro volume, dessa vez como o careca Jhonny Mo, líder dos 88 Loucos, o exército particular de O-Ren.

Primeira cena do treinamento de Pai Mei, que é uma figura recorrente em filmes de artes marciais.

Primeira cena do treinamento de Pai Mei, que é uma figura recorrente em filmes de artes marciais.

Nesse segundo filme temos bem menos ação e muito mais diálogo e explicações, o que, para um fã de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, como eu, é um prato cheio. Aqui conhecemos o passado tanto d’A Noiva como o de Bill. Somos apresentados aos alicerces da história: o filme é um chute em cachorro morto. Não bastasse mostrar que sabe fazer cenas de ação, Tarantino ainda nos mostra que seu Oscar de melhor roteiro original por Pulp Fiction não foi à toa com uma história e personagens incrivelmente bem construídos.

Uma das principais causas de polêmica acerca do filme é o quão sangrento ele é. E não estamos falando de “violento” (apesar de sê-lo), mas de “grandes quantidades de sangue jorram em todas as direções”. Esse efeito usado pelo diretor propositalmente onde uma cabeça cortada faz o corpo se tornar um chafariz ou um braço decepado jorra sangue para até 2 metros do local onde está é visto por muitos como “apelativo”, “ridículo” ou “cafona”. Ridículo, quando se pensa em filmes que querem ser verossímeis, até desce, já os outros… O diretor procura, com recursos como esse, pintar um quadro, ou melhor, um mangá. Ele tenta criar um ambiente ligeiramente fantasioso onde um épico de vingança pode ocorrer. E é bem sucedido.

Algo interessante é o fato de que, ao contrário da maioria dos diretores, que ao filmar fora dos EUA leva sua própria equipe, Tarantino quis que a troca de informações e as influências no filme fossem totais, contratando profissionais locais em cada ponto de filmagem, seja nos EUA, no Japão ou na China. Imersão total nos estilos e culturas.

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“Não Uma, pela última vez: essa ainda NÃO É a hora da soneca”

Outro ponto interessante e genial do filme é a trilha sonora. Incumbido de fazer um bom trabalho, o rapper RZA (agora também diretor de “The Man With The Iron Fists”, apresentado por Tarantino) se supera e põe a cereja no topo do bolo dessa obra de arte. Misturando música japonesa com música mexicana, algo inimaginável mas que sai surpreendentemente bem, ele se mostrou um gênio para a função, só realçando seu sucesso com a seleção do resto da trilha sonora.

Em resumo, mais uma obra de arte que vai de roteiro a trilha sonora, de maquiagem a figurino, de tratamento de imagem a atuação… Enfim, o filme valeu a pena os TRÊS meses de preparação exaustiva pela qual os atores (sobretudo Uma) teve que passar, com aulas de Kung Fu, manejo de espada, japonês, mandarim, cantonês, entre outros…

Ok, vamos ver o que podemos tirar do que já temos:

Django Unchained terá:
1 – Os diálogos incríveis de Pulp Fiction
2 – A crueza na profissão “Caçador de recompensas” como em Pulp Fiction
3 – O clima de épico de Kill Bill
4 – Os personagens bem construídos de Kill Bill
5 – A fome de vingança d’A Noiva…

O que mais podemos acrescentar à esse Frankesntein de Tarantino? Fique ligado nos próximos Torresmos e na estreia de Django, quando finalmente veremos a criatura viva…

Links prometidos: Pulp Fiction: https://umanoitenopub.wordpress.com/2013/01/06/torresmo-e-caipirinha-08-pulp-fiction/
Trilogia da Herança (cena inspirada em Hattori Hanzo): https://umanoitenopub.wordpress.com/2012/10/18/a-estante-02-ciclo-a-heranca-eragon-2002-eldest-2005-brisingr-2008/